Bíblias para crianças e adolescentes


sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Monismo, Dicotomia ou Tricotomia?

    Existem na teologia quatro concepções sobre a constituição do ser humano:

    1) A Dicotomia: o ser humano é composto por duas partes distintas, uma material comumente chamada de corpo e uma imaterial comumente chamada de alma ou espírito.

    2) A Tricotomia: para o tricotomista, o ser humano é composto por três partes distintas entre si: o corpo (material), a alma como sede do intelecto, emoções e vontade (imaterial) e o espírito humano (imaterial).

    3) O Monismo: o monista crê que o homem é composto por um único elemento.

    4) A Unidade Condicional: crê que o homem é um composto unitário de um elemento material e um elemento imaterial que formam uma unidade.

1)   Dicotomia

Argumentam os dicotomistas que:

a)      As Escrituras usam ‘alma’ e ‘espírito’ indistintamente.

Jo 12.27 e Jo 13.21; Lc 1.46-47; Mt 20.28 ‘dar a sua vida (psichê – alma) e Mt 27.50 entregou o seu espírito (pneuma – espírito).

b)      Na morte, as Escrituras dizem tanto que a ‘alma’ parte quanto que o ‘espírito’ parte.

Gn 35.18; IRs 17.21 e Is 53.12 usam a palavra ‘alma’ e Lc 23.46; Escrituras 12.7 e Jo 19.30 usam a palavra ‘espírito’.

c)      O homem é tido tanto como ‘corpo e alma’ quanto como ‘corpo e espírito’.

Mt 10.28 ensina claramente que uma parte imaterial persiste após a morte, aqui chamada de ‘alma’. Em ICo 5.5 Paulo parece crer que o ‘espírito’ permanece após a morte, como Tiago o faz em Tg 2.26.

d)      A ‘alma’ pode pecar, ou o ‘espírito’ pode pecar.

Tanto dicotomistas quanto tricotomistas admitem que a alma pode pecar (IPe 1.22; Ap 18.14). Porém, normalmente os tricotomistas consideram o espírito como mais puro do que a alma e, no homem regenerado (salvo), livre do pecado. Mas Paulo crê que pode haver impureza no espírito (IICo 7.1; ICo 7.34). Outras passagens que sugerem que o espírito peca são Sl 78.8; Is 29.24; Pv 16.2.

e)      Tudo o que se diz que a alma faz, diz-se que o espírito também faz; e tudo que se diz que o espírito faz, diz-se que a alma também faz.

Se abatem (Jo 13.21; Jo 12.27); pode ansiar por Deus e o adora (Sl 42.5; Sl 35.9; Jo 4.23).

             Alguns teólogos batistas dicotomistas: Wayne Grudem; Franklin Ferreira; A. H. Strong.

2)   Tricotomia

a)      ITs 5.23

O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”.

Dicotomistas interpretam esse texto como um recurso enfático de linguagem, como usado em Mt 22.37 e Mc 12.30 por exemplo.

b)      Hb 4.12

Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”.

Dicotomistas interpretam esse texto não como a Palavra dividindo a ‘alma do espírito’, mas que o autor pretendia dizer que a Palavra não tem por oculto os elementos íntimos do nosso ser, e não distinguir alma e espírito.

c)      ICo 14.14

Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera

Dicotomistas interpretam esse texto crendo que é um equívoco tricotomista, que só surge quando se supõe que a ‘mente’ faz parte da alma.

d)      É nosso espírito que nos faz diferentes dos animais.

Dicotomistas interpretam que a questão de se o animal tem alma depende da definição de alma. Se definirmos alma como ‘intelecto, emoções e vontade’ então concluímos que ao menos os animais superiores têm alma. Mas de definirmos alma como sinônimo de espírito, como o elemento imaterial da nossa natureza e que vive para sempre, então os animais não têm alma.

e)      O espírito é aquilo que recebe vida na regeneração.

Dicotomistas entendem que o espírito humano não é algo morto num descrente, mas rebelde diante de Deus. O que a Bíblia afirma, entretanto, é que todo o nosso ser estava ‘morto em delitos e pecados’ antes da regeneração (Ef 2.1), mas fomos vivificados por Cristo (Ef 2.2-9) e agora devemos nos considerar ‘mortos’ para o pecado (Rm 6.11). Assim, devemos entender que morte aqui significa a separação do homem da presença de Deus.

3)   Monismo

    O monismo acredita que o homem é um ser composto de um único elemento e, portanto, “não pode haver a existência isolada de nenhuma ‘alma’ depois da morte do corpo... Segundo o monismo, os termos bíblicos ‘alma’ e ‘espírito’ são apenas outros modos de designar a própria ‘pessoa’ ou ‘vida’ da pessoa[1]. Essa posição, entretanto, não é adotada por nenhum teólogo evangélico, pois parece ir contra a afirmação evidente de que na Bíblia o homem é visto como um ser, pelo menos, composto por parte material e parte imaterial, além de negar a possibilidade de existência pós-morte.

4)   Unidade Condicional

    Usa-se os mesmos argumentos da dicotomia para afirmar que a parte imaterial do homem pode ser chamada de ‘alma’ tanto quanto de ‘espírito’ na Bíblia, mas defende que essa parte imaterial está de tal forma amalgamada ao corpo físico que tornam-se uma um composto unitário. O proponente dessa teoria é Millard Erickson, teólogo batista, que diz: “O elemento espiritual e o físico nem sempre são distinguíveis, pois o homem é um ser unitário; não há conflito entre a natureza material e a imaterial. O composto pode, porém, ser dissociado: a dissociação ocorre na morte. Na ressurreição será formado um novo composto, com a alma (se escolhermos esse nome) voltando a ser inseparavelmente ligada ao corpo[2]. O próprio Erickson chama sua teoria de ‘monismo contingente’[3].



[1] Grudem, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, pg. 389.

[2] Erickson, Millard. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997, pg. 232-233.

[3] Ibidem, pg. 233.

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