Existem na teologia quatro concepções sobre a constituição do ser humano:
1) A Dicotomia: o ser humano é composto por duas partes
distintas, uma material comumente chamada de corpo e uma imaterial comumente
chamada de alma ou espírito.
2) A Tricotomia: para o tricotomista, o ser humano é
composto por três partes distintas entre si: o corpo (material), a alma como
sede do intelecto, emoções e vontade (imaterial) e o espírito humano
(imaterial).
3) O Monismo: o monista crê que o homem é composto por um
único elemento.
4) A Unidade Condicional: crê que o homem é um composto
unitário de um elemento material e um elemento imaterial que formam uma
unidade.
1) Dicotomia
Argumentam os dicotomistas que:
a)
As Escrituras
usam ‘alma’ e ‘espírito’ indistintamente.
Jo 12.27 e Jo 13.21; Lc
1.46-47; Mt 20.28 ‘dar a sua vida (psichê – alma) e Mt 27.50 entregou o seu
espírito (pneuma – espírito).
b)
Na morte, as
Escrituras dizem tanto que a ‘alma’ parte quanto que o ‘espírito’ parte.
Gn 35.18; IRs 17.21 e
Is 53.12 usam a palavra ‘alma’ e Lc 23.46; Escrituras 12.7 e Jo 19.30 usam a
palavra ‘espírito’.
c)
O homem é tido
tanto como ‘corpo e alma’ quanto como ‘corpo e espírito’.
Mt 10.28 ensina claramente
que uma parte imaterial persiste após a morte, aqui chamada de ‘alma’. Em ICo
5.5 Paulo parece crer que o ‘espírito’ permanece após a morte, como Tiago o faz
em Tg 2.26.
d)
A ‘alma’ pode
pecar, ou o ‘espírito’ pode pecar.
Tanto dicotomistas
quanto tricotomistas admitem que a alma pode pecar (IPe 1.22; Ap 18.14). Porém,
normalmente os tricotomistas consideram o espírito como mais puro do que a alma
e, no homem regenerado (salvo), livre do pecado. Mas Paulo crê que pode haver
impureza no espírito (IICo 7.1; ICo 7.34). Outras passagens que sugerem que o
espírito peca são Sl 78.8; Is 29.24; Pv 16.2.
e)
Tudo o que se diz
que a alma faz, diz-se que o espírito também faz; e tudo que se diz que o
espírito faz, diz-se que a alma também faz.
Se abatem (Jo 13.21; Jo
12.27); pode ansiar por Deus e o adora (Sl 42.5; Sl 35.9; Jo 4.23).
2) Tricotomia
a)
ITs 5.23
“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e
corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo”.
Dicotomistas
interpretam esse texto como um recurso enfático de linguagem, como usado em Mt
22.37 e Mc 12.30 por exemplo.
b)
Hb 4.12
“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que
qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos
do coração”.
Dicotomistas
interpretam esse texto não como a Palavra dividindo a ‘alma do espírito’, mas que o autor pretendia
dizer que a Palavra não tem por oculto os elementos íntimos do nosso ser, e não
distinguir alma e espírito.
c)
ICo 14.14
“Porque, se eu
orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica
infrutífera”
Dicotomistas
interpretam esse texto crendo que é um equívoco tricotomista, que só surge
quando se supõe que a ‘mente’ faz parte da alma.
d)
É nosso espírito
que nos faz diferentes dos animais.
Dicotomistas
interpretam que a questão de se o animal tem alma depende da definição de alma.
Se definirmos alma como ‘intelecto, emoções e vontade’ então concluímos que ao
menos os animais superiores têm alma. Mas de definirmos alma como sinônimo de
espírito, como o elemento imaterial da nossa natureza e que vive para sempre,
então os animais não têm alma.
e)
O espírito é
aquilo que recebe vida na regeneração.
Dicotomistas
entendem que o espírito humano não é algo morto num descrente, mas rebelde
diante de Deus. O que a Bíblia afirma, entretanto, é que todo o nosso ser
estava ‘morto em delitos e pecados’ antes da regeneração (Ef 2.1), mas fomos
vivificados por Cristo (Ef 2.2-9) e agora devemos nos considerar ‘mortos’ para
o pecado (Rm 6.11). Assim, devemos entender que morte aqui significa a
separação do homem da presença de Deus.
3) Monismo
4) Unidade Condicional
Usa-se os mesmos argumentos da
dicotomia para afirmar que a parte imaterial do homem pode ser chamada de ‘alma’
tanto quanto de ‘espírito’ na Bíblia, mas defende que essa parte imaterial está
de tal forma amalgamada ao corpo físico que tornam-se uma um composto unitário.
O proponente dessa teoria é Millard Erickson, teólogo batista, que diz: “O elemento espiritual e o físico nem sempre
são distinguíveis, pois o homem é um ser unitário; não há conflito entre a
natureza material e a imaterial. O composto pode, porém, ser dissociado: a
dissociação ocorre na morte. Na ressurreição será formado um novo composto, com
a alma (se escolhermos esse nome) voltando a ser inseparavelmente ligada ao
corpo”[2].
O próprio Erickson chama sua teoria de ‘monismo contingente’[3].
Nenhum comentário :
Postar um comentário